

Decidimos fabricar o novo estilete em linhas direitas, puramente clássicas, com geometria perfeita, num forte estilo contemporâneo, de leitura simples, criando um hiato temporal entre o medieval original e o novel elemento.
Seleccionámos o bronze como matéria prima, pela sua nobreza e longevidade.
Construído em duas peças, o estilete, triangular, cujos catetos medem 108 mm, está assente sobre uma base com 175 mm de alto, por 80mm de largura e 10 mm de espessura, na qual foi efectuado um rasgo perpendicular central, em cujo leito assenta o estilete, cruzado no seu ponto médio superior por um outro rasgo, transversal, formando uma cruz.
Quisemos assim imprimir a esta peça toda a carga simbólica do cristianismo, a cruz enquanto sinal e referência por excelência de encontro de culturas e civilizações, caminhos de fé milenares, acompanhando o sol no seu movimento aparente de Oriente para Ocidente.
Inserido no restauro da máquina de relojoaria monumental da torre da Igreja matriz de Ançã, estamos igualmente a proceder à fabricação de um novo gnómon, ou estilete, para o antiquíssimo relógio de sol, existente na parede Sul da torre.
Fabricado numa peça única de pedra de Ançã, medindo 78 centímetros de largura e 76 de alto, com a graduação do quadrante em numeração árabe, encontra-se em excelente estado de conservação, instalado no topo do primeiro e original piso da torre, em arquitectura mudéjar, conforme recentes obras de beneficiação puseram a descoberto, podendo actualmente admirar-se o elegante tecto, com abóbada de tijolinha, bem ao estilo mourisco.
No orifício de encaixe do estilete, foram encontrados os restos do chumbo que serviu para fixar o anterior gnómon, sinal seguro da sua grande antiguidade.
De fundação muito antiga, a original torre poderá estar associada a uma primitiva estratégia defensiva. Na parede poente, ao mesmo nível do relógio de sol, existe o quadrante que terá pertencido ao primitivo relógio mecânico de Ançã.